A insensatez do desperdício de alimentos

por Larissa Itaboraí

A falta de infraestrutura na cadeia de produção alimentar brasileira faz o País desperdiçar cerca 40 mil toneladas de alimentos por dia

O desperdício de comida é um problema mundial. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO (sigla em inglês), em todo o mundo é desperdiçado cerca de 1,3 bilhão de alimentos por ano. No Brasil, esse descarte totaliza 11 milhões de toneladas por ano, cerca de 40 mil toneladas por dia. Com a estimativa de que a população mundial deve passar de 7 bilhões de pessoas para 9 bilhões até 2050, a demanda alimentar também crescerá e, se não houver uma reorganização na cadeia produtiva, o desperdício aumentará ainda mais.

Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, o desperdício ocorre por falhas nas etapas da cadeia produtiva. Os problemas atingem desde a colheita, o manuseio, a armazenagem, passa pelo transporte e vai até a comercialização e o consumo. Ou seja, o desperdício alimentar é um problema econômico, ambiental e ético, pois a pressão por maior produção de alimentos impacta no uso de água, terras cultiváveis, insumos agrícolas e tempo de trabalho, além da geração de gases de efeito estufa pela comida em decomposição e pelo transporte dos alimentos.

O pesquisador Antonio Gomes, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, destaca que o desequilíbrio entre a população e a oferta de alimentos pode ser minimizado por meio da redução das perdas que ocorrem nas diferentes etapas da obtenção dos alimentos, desde a produção, passando pela comercialização até o consumo.

Segundo Antonio, alguns entraves no processo de produção e distribuição alimentar estão presentes em todas as etapas da cadeia como, por exemplo, no manejo inadequado nos campos, nas embalagens impróprias para guardar os alimentos, no transporte ineficiente, além do acúmulo de produtos nas gôndolas dos supermercados.

“Produtores, atacadistas, varejistas e consumidores devem se conscientizar de que são parte integrante do sistema. O trabalho em equipe entre o campo e o comércio varejista deveria existir, assim poderíamos ter uma diminuição enorme no hiato que existe entre o que o consumidor busca de qualidade e o que o produtor deve fornecer”, alerta Antonio.

Quarto maior produtor mundial de alimentos, o Brasil produz comida suficiente para alimentar toda a sua população e ainda exportar excedentes. Porém, toda essa produção é afetada pela má distribuição e desperdício. De acordo com dados da Embrapa, esta perda diária de alimentos na casa das 40 mil toneladas é suficiente para alimentar em torno de 19 milhões de pessoas com três refeições por dia.

Para complementar a insensatez do desperdício, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 870 milhões de pessoas passam fome, seja porque não têm terra – o que dificulta a agricultura de subsistência – ou porque não têm dinheiro para pagar o preço de mercado.

De acordo com Antonio Gomes, se o Brasil diminuir o seu desperdício poderá aumentar a oferta de produtos aos consumidores sem aumentar a produção agrícola. Isto reduziria custos e preços, pois todos os segmentos, desde a produção até a comercialização, trabalham com margem de perdas e computam isto como custo, aumentando os preços em várias etapas da cadeia produtiva.

No início de 2013, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a FAO lançaram a campanha “Pensar, Comer, Preservar” para mostrar que mudanças de padrões de produção e consumo são eficazes para diminuir o desperdício. A proposta é revelar a situação atual e apresentar modelos que foram adotados com sucesso para minimizar o desperdício. Conheça a campanha aqui. (www.thinkeatsave.org)

Referência – Mesmo desperdiçando 40 mil toneladas por dia, o Brasil aparece como exemplo no combate ao desperdício, já que o percentual no país caiu de 14,9%, no período de 1990 a 1992, para 6,9%, nos anos de 2010 a 2012, de acordo com o relatório “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo”, da FAO. Os programas sociais desenvolvidos pelo governo brasileiro em parceria com os governos estaduais e municipais, além da iniciativa privada, foram elogiados no documento, bem como o programa Bolsa Família. O relatório aponta ainda que número total de pessoas famintas no mundo diminuiu em 132 milhões entre 1990 e 2012.

* Publicado no Blog da Fundação Verde Herbert Daniel

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