A emergente extrema-direita em uma Europa em crise

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Por: Claudio Turtelli

Carismáticos e populistas de direita estão ocupando cada vez mais espaço no espectro político europeu. Não há como negar que a extrema-direita está fortalecida entre o eleitorado e prova disso é sua influência, cada vez maior, sobre os governos e o direcionamento de importantes políticas públicas, em diversos países do continente.

Longe de ser um fenômeno moderno, a extrema-direita nacionalista europeia, ideologicamente ligada a atividades que se opõem à democracia e aos direitos humanos, sempre trabalhou, na contramão, por uma sociedade com viés autoritário e antipluralista. Seu núcleo geralmente é composto por elementos ultranacionalistas, autoritários e xenofóbicos que, quase sempre, evitam ser identificados como extremistas de direita.

O maiores disfarces para impor suas políticas e suas conotações racistas se escondem atrás de um patriotismo defensor do pleno emprego (só) para os nativos europeus e do combate à criminalidade, tese esta que serve mais como maquiagem para esconder a sede de violência que geralmente exprimem. Mas não conseguem disfarçar suas reais intenções quando o assunto é a discriminação racial, principalmente quando tentam criar a falsa sensação de que o país ou o continente, em determinados momentos, estão sendo inflados por imigrantes estrangeiros. Neste aspecto é bom lembrar que, no passado, a implicância era com os ciganos e o povo judeu e, agora, a bola da vez são os povos de crença muçulmana.

Eles apostam também na propaganda negativa de que a prática política democrática cotidiana é janela para a corrupção, trampolim de ascensão para a elite dominante, entre outros chavões de desmancha prestígio. Para contrapor, se apresentam como “paladinos do homem comum”, diga-se de passagem, um tipo de mensagem facilmente assimilado por amplos setores da sociedade. E, tudo isso em um momento de crise global que atingi a Europa em cheio, somados aos constantes fracassos das políticas públicas colocadas em prática por partidos democráticos ora no exercício do poder.

Com este tipo de apelo, gradualmente estão ganhando força, alcançando sucesso eleitoral em nível nacional e europeu. Entre os partidos em franca ascensão eleitoral podemos mencionar o belga Vlaams Belang, o francês Frente Nacional, o italiano Liga Norte, o húngaro MIEP, o austríaco Bündnis Zukunft Österreich, o também austríaco Freiheitliche Partei Österreichs, o suíço Volkspartei, o Partido Holandês para a Liberdade, o Partido do Povo Dinamarquês, entre outros. Há também um número de partidos de abrangência local ou regional, tais como: o Partido Nacional Alemão, o Partido Nacional Britânico e o Partido Sueco SD, frisando ainda governos como o de Victor Orban, na Hungria e Golden Dawn, na Grécia.

A extrema-direita também está representada no Parlamento Europeu, trabalhando ativamente para criar sua célula continental. Só para exemplificar, a eurodeputada Marine Le Pen, o eurodeputado e líder do partido austríaco Freiheitliche Partei Österreichs, Heinz-Christian Strache, juntamente com o extremista holandês, Geert Wilders, entre outros, estão em franca aliança visando às eleições para o Parlamento Europeu, em 2014.

Existe ainda o aspecto de capitalização dos partidos que, tal como aqui no Brasil, podem receber recursos públicos para se organizarem como células políticas. A Aliança Europeia para a Liberdade (EAF), por exemplo, foi reconhecida (em 2011) como partido continental pelo Parlamento Europeu e recebeu cerca de 372 mil euros. Foi assim também com a Aliança Europeia de Movimentos Nacionais que embolsou 290 mil euros. Em um futuro próximo, partidos como o neofascista Fiamma Tricolore podem também receber suas cotas.

Num mar de decepções e com o aperto monetário por que passa o continente europeu, não é difícil que a extrema-direita seja reeditada, com seus novos disfarces e plumagens, em uma versão mais fortalecida e unificada. As incômodas alianças de partidos de centro e de direita, com partidos de esquerda e de centro-esquerda, tal como deve ocorrer na Alemanha nos próximos dias (CDU/SPD), podem ser, em caso de fracasso, um prato cheio para revigorar o discurso canastrão dos extremistas, criando condições para aumentar ainda mais a fatia de poder que eles tanto almejam.

* Claudio Turtelli é dirigente nacional do Partido Verde

* publicado originariamente em 01.10.2013

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